Como é que é possível?
O nosso país fantástico é, ano após ano, tristemente atingido por incêndios.
Nunca percebi como é que é possível alguém atear fogos, colocando vidas em risco, destruíndo floresta e bens de populações inteiras.
Nasci em Lisboa. Já mudei de casa algumas vezes, mas sempre morei na área da grande Lisboa. Mas, apesar de adorar Lisboa, se tenho “uma terra” do coração, essa fica no interior do país, algures na zona de Castelo de Bode. Enquanto que para os meus colegas de escola “ir à terra” era uma seca descomunal, eu adorava, porque significava uns dias de férias no rio.
Desde cedo percebi da pior forma este flagelo que são os incêndios. Era eu bastante nova, e os meus pais tiveram que vir ajudar os familiares que cá tínhamos, e ajudar a salvar os bens que fosse possível.
Hoje em dia vivemos na era da comunicação, e mais facilmente se consegue saber na net ou nas notícias em que zona está determinado incêndio, ou se há populações em risco...
Mas naquela altura, assim que o fio do telefone era atingido pelas chamas, toda e qualquer comunicação era cortada, e do outro lado só se ouvia um silêncio ensurdecedor, não se sabendo sequer se os nossos familiares estavam a salvo.
Uns anos mais tarde, já estava eu na faculdade, novamente se repetiu a situação. Incêndio próximo de cá, pais fazem-se ao caminho para ir ajudar.
Pelo telemóvel ia acompanhando o desenrolar da situação. O telefonema mais assustador foi aquele em que os meus pais me desligaram o telefone assim que atenderam com um “estamos no meio do fogo a tentar apagar, agora não podemos falar”. E eu fiquei do outro lado, com o telefone e o coração nas mãos.
Os bombeiros são incansáveis, sim. Mas infelizmente não chegam a todo o lado. Nem os meios disponíveis. E quando se está numa zona remota e com pouca população, muitas vezes não chegam... E são mesmo os populares que andam da forma que podem a tentar apagar o fogo.
E hoje estou aqui. A cerca de 20 kilómetros de distância do maior incêndio que lavra neste momento no país. Já lá estiveram 9 meios aéreos, cerca de 700 bombeiros, e mais de 200 meios terrestres.
Neste momento por aqui temos fumo, temos cinza pelo ar, e temos o vento a vir de lá para cá.
Espero sinceramente que a situação seja controlada brevemente. Espero que não haja vidas perdidas. E continuo sem perceber como é que tudo isto é possível...